Alegações de golpe são uma tentativa de me eliminar, diz opositor são-tomense
Uma das principais figuras da oposição são-tomense diz que as acusações de que ele tentou dar um golpe de Estado no pequeno estado africano eram uma "farsa" e uma tentativa de destruí-lo.
Quatro pessoas foram mortas na sexta-feira passada quando os militares frustraram uma tentativa de tomada do poder, segundo as autoridades.
O líder da oposição e ex-presidente do parlamento, Delfim Neves, foi preso posteriormente, acusado pelo primeiro-ministro Patrice Trovoada de ter encenado a tentativa de golpe.
"Tudo isso é apenas uma farsa, um show... destinado a eliminar fisicamente pessoas que podem ser politicamente problemáticas, o que me inclui", disse Neves em entrevista coletiva na quarta-feira.
Neves foi libertado sob fiança na terça-feira, disseram o seu advogado e o STP-Presse.
O Ministério da Justiça e o Ministério Público não responderam a um pedido da AFP na quarta-feira para dizer se Neves havia sido acusado e, em caso afirmativo, por quê.
São Tomé e Príncipe é um arquipélago de língua portuguesa na África central que tem uma forte reputação de democracia e estabilidade.
Os principais detalhes sobre o que aconteceu na sexta-feira e nos dias seguintes permanecem obscuros.
Trovoada disse na sexta-feira que quatro pessoas foram presas após um tiroteio de seis horas no quartel-general do exército.
Quatro pessoas morreram e os detidos identificaram Neves e um mercenário chamado Arlecio Costa como os "patrocinadores" da operação, disse ele.
As autoridades prenderam Neves e Costa, disse Trovoado.
Mas, dois dias depois, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas disse, sem dar mais detalhes, que três dos quatro detidos morreram devido aos ferimentos sofridos em uma "explosão" e Costa morreu depois de "pular de um veículo".
"Mataram a prova viva" do sucedido, disse Neves na conferência de imprensa, referindo-se a Costa e aos três detidos mortos.
"O acusador (o quarto detido) ficou vivo para dizer que Delfim Neves era um dos cabeças desta conspiração", acusou.
Ele acrescentou: "Se as pessoas não tivessem se mobilizado rapidamente para me tirar do quartel às 5h30, Delfim Neves também estaria morto no dia seguinte".
Costa já serviu em um notório grupo de mercenários sul-africanos, o Buffalo Batalhão, que foi dissolvido no fim do apartheid em 1993. Ele já havia sido acusado de uma tentativa de golpe em São Tomé em 2009.
O governo anunciou que iniciará investigações sobre a tentativa de golpe e a morte dos quatro.
Na terça-feira, a União Européia aumentou a pressão por transparência, dizendo que a investigação deveria "esclarecer os fatos... de acordo com os direitos humanos e os valores democráticos".
Neves perdeu o cargo de presidente em 11 de novembro, quando a nova Assembleia Nacional foi instalada após as eleições de setembro.
A votação foi ganha com maioria absoluta pelo partido de centro-direita Ação Democrática Independente (ADI) de Trovoada. Ele voltou ao cargo principal pela terceira vez.
A ADI é um dos dois principais partidos que competem para governar o país desde a independência de Portugal em 1975, juntamente com o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe-Partido Social Democrático (MLSTP-PSD).
No ano passado, Neves também fracassou na tentativa de se eleger presidente, um cargo amplamente simbólico, perdendo para Carlos Vila Nova, do ADI.
Ele chegou em terceiro lugar e alegou ter ocorrido "fraude eleitoral em massa".
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