Brasil abre julgamentos sobre motins pró-Bolsonaro
O Supremo Tribunal do Brasil abriu na quarta-feira os primeiros julgamentos sobre os distúrbios de 8 de janeiro perpetrados por apoiantes do ex-presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, colocando quatro acusados no banco dos réus num dos edifícios invadidos naquele dia.
Os 11 juízes do tribunal proferirão as suas decisões um a um em cada caso, sendo necessária a maioria para garantir uma condenação.
O juiz responsável pelo caso, Alexandre de Moraes, já decidiu condenar o primeiro acusado - um homem de 51 anos chamado Aécio Pereira - recomendando que ele seja condenado a 17 anos de prisão por suas ações, que incluíam invadir o plenário do Senado com uma camiseta marcada "Intervenção Militar".
Um segundo juiz pediu uma pena muito mais leve de apenas 2,5 anos, com o julgamento agendado para ser retomado na quinta-feira e nove juízes ainda restantes para avaliar.
Moraes disse que os manifestantes, que também saquearam o palácio presidencial e o Congresso, realizaram uma "invasão criminosa com o objetivo de tomar ilegalmente o poder através de um golpe militar e derrubar violentamente (o) governo democraticamente eleito" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os tumultos em Brasília abalaram profundamente uma nação ainda dividida pela vitória estreita do veterano esquerdista Lula sobre Bolsonaro na corrida presidencial de outubro de 2022, e geraram comparações inevitáveis com a invasão do Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021 por apoiadores do então presidente Donald Trump, líder de Bolsonaro. modelo político.
Indignados com a derrota de Bolsonaro para Lula, milhares de seus apoiadores sobrecarregaram a segurança para invadir a sede do poder uma semana após a posse de Lula, pedindo uma intervenção militar para destituir o presidente recém-empossado, que não estava em Brasília na época.
Eles promoveram tumultos dentro dos três prédios, quebrando janelas, jogando móveis em fontes, vandalizando obras de arte e transformando o estrado central do Senado em um escorregador.
Os quatro homens em julgamento, com idades entre 24 e 52 anos, são acusados de crimes que incluem conspiração criminosa armada, revolta violenta contra o Estado de direito e tentativa de golpe de Estado.
O Supremo Tribunal planeia ouvir um total de 232 casos envolvendo os alegados crimes mais graves cometidos durante os motins.
Os primeiros quatro acusados enfrentam, cada um, uma pena total de até 30 anos de prisão. Eles negaram as acusações contra eles, dizendo acreditar que os protestos seriam pacíficos.
Mas os promotores disseram que o primeiro acusado incitou abertamente um golpe.
O promotor Carlos Frederico Santos disse que as provas contra Pereira incluíam um vídeo de celular que ele gravou durante os tumultos, no qual ele aparecia na frente da Câmara do Senado comemorando a invasão.
"Seu apoio à intenção golpista da horda antidemocrática é irrefutável", disse Santos.
Os advogados de Pereira, supostamente um ex-funcionário da empresa municipal de saneamento de São Paulo, disseram ao tribunal que seu cliente estava desarmado e não cometeu nenhum ato de violência.
O advogado de defesa Sebastião Coelho da Silva classificou o julgamento como "motivado politicamente".
Além dos 232 casos perante o Supremo Tribunal, os procuradores estão a investigar mais de 1.000 outros por causa dos ataques, a maioria por acusações menores que poderiam ser resolvidas em acordos de confissão.
Os investigadores também estão a trabalhar para localizar os financiadores por detrás dos protestos e determinar se a polícia e os oficiais do exército tiveram algum papel. Sete comandantes da polícia de Brasília foram presos no mês passado por abandono do dever em conexão com os tumultos.
Bolsonaro, que estava nos Estados Unidos na época, enfrenta investigação por acusações de incitação aos tumultos.
O ex-capitão do Exército, de 68 anos, um admirador declarado do regime militar brasileiro de 1964 a 1985, nega qualquer irregularidade.
"Algumas pessoas estão obcecadas em tentar me ligar" aos acontecimentos de 8 de janeiro, disse ele à Folha de São Paulo na segunda-feira.
Bolsonaro também está sob investigação por diversas alegações de corrupção e abuso de poder.
Em junho, as autoridades eleitorais proibiram-no de concorrer a cargos públicos durante oito anos devido às suas alegações não comprovadas de que o sistema de votação eletrónica do Brasil era vulnerável a fraudes em grande escala.
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