O crescente setor agrícola do Brasil atrai dinheiro e controvérsia
Com a sua enorme produção de soja, carne bovina, algodão e agora milho, o Brasil tornou-se uma das maiores potências agrícolas do mundo. Mas a sua indústria do agronegócio também enfrenta críticas, especialmente pela destruição da floresta amazónica.
Aqui está uma visão geral do gigante agrícola sul-americano, que, mais de uma década depois de ultrapassar os Estados Unidos como o maior exportador mundial de soja e carne bovina, está prestes a ultrapassar as exportações de milho dos EUA este ano e agora está de olho na coroa do algodão.
O Ministério da Agricultura do Brasil anunciou recentemente triunfantemente que a produção do sector atingirá um recorde de 1,15 biliões de reais (230 mil milhões de dólares) este ano.
O país – o quinto maior do mundo em área de superfície – é o maior produtor e exportador de açúcar, café e soja.
É também o maior fornecedor mundial de frango e carne bovina, e o segundo em algodão, depois dos Estados Unidos.
O agronegócio é responsável por quase um quarto da economia do Brasil e metade das suas exportações no primeiro semestre do ano.
A emergência do Brasil como gigante agrícola remonta à época colonial portuguesa. Aqui foram feitas fortunas com uma sucessão de mercadorias: cana-de-açúcar, depois algodão, borracha e finalmente café, que reinou supremo durante mais de um século.
Mas o ponto de viragem ocorreu nas décadas de 1960 e 1970, quando o então regime militar do Brasil deu início à chamada "revolução verde" e incentivou a expansão da agricultura para a savana da Amazónia e do Cerrado.
Alimentado pela procura chinesa, o Brasil viria a tornar-se o produtor dominante de soja, um ingrediente amplamente utilizado na alimentação animal em todo o mundo.
"Pesquisas sobre melhorias genéticas, técnicas para corrigir a acidez do solo e fertilizantes" – além do desenvolvimento de pesticidas – permitiram ao Brasil expandir a produção de soja, milho e algodão em regiões tropicais, disse a empresa estatal de pesquisa agrícola Embrapa à AFP.
O Brasil é capaz de colher duas e às vezes três safras por ano, graças ao seu clima e ao desenvolvimento do plantio direto e de culturas geneticamente modificadas (OGM) – que hoje respondem por 80 a 90 por cento da produção de soja, milho e algodão do país. .
A produção de todos os três triplicou nas últimas duas décadas.
Mas o boom trouxe polêmica.
A indústria do agronegócio ajudou a alimentar o desmatamento na Amazônia, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu deter.
Polémicas sobre as elevadas taxas de desflorestação, pesticidas e utilização de OGM prejudicaram a marca do Brasil em alguns lugares, incluindo a União Europeia, que adiou a ratificação de um acordo de livre comércio com o bloco sul-americano Mercosul sobre questões ambientais.
A imagem do setor agro também pagou um preço internacionalmente pela sua estreita associação com o polêmico ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, que esteve no cargo de 2019 a 2022.
Lula terá de chegar a um acordo com o poderoso lobby do agronegócio se quiser cumprir a sua promessa de parar a desflorestação da Amazónia até 2030, após uma onda de destruição sob Bolsonaro.
O veterano esquerdista, que precisa da ajuda do sector para manter a economia em crescimento, procura abrir novos mercados para os produtores brasileiros através de acordos comerciais, nomeadamente com o principal comprador, a China.
Por seu lado, o setor agrícola está empenhado em melhorar a sua imagem, com os clientes internacionais a exigirem cada vez mais produtos livres de desflorestação.
"As empresas de carne estão trabalhando arduamente para tornar suas cadeias de abastecimento rastreáveis, o que é fundamental para o valor das exportações", disse Luiz Carlos Correa Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio.
Enquanto isso, os produtores de grãos elogiam a recente adoção de um acordo agrícola sustentável que visa proteger o Cerrado.
Os ambientalistas dizem que isso não é suficiente.
"O verdadeiro progresso seria o desmatamento zero", disse Cristiane Mazzetti do Greenpeace Brasil, que apelou a novos modelos de produção que protejam a biodiversidade.
A questão é urgente, especialmente porque as alterações climáticas já começam a afectar a produção agrícola.
"Temos que evoluir para um modelo mais sustentável", disse Britaldo Soares Filho, pesquisador de modelagem ambiental da Universidade de Minas Gerais.
"Quando o agronegócio agride o meio ambiente, dá um tiro no próprio pé".
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