Depois dos EUA, Brasil: Argentina enfrenta alegações infundadas de fraude eleitoral
Sem provas, nem quaisquer queixas apresentadas, as alegações de fraude eleitoral foram partilhadas dezenas, por vezes centenas de milhares de vezes, em contas de redes sociais que apoiam o candidato presidencial ultralibertário da Argentina, Javier Milei.
Tal como Donald Trump, derrotado nas eleições norte-americanas de 2020, ou o brasileiro de extrema-direita Jair Bolsonaro, que perdeu a votação no ano passado, o próprio forasteiro Milei ajudou a alimentar as suspeitas antes do segundo turno, em 19 de novembro, no qual enfrentará o ministro da Economia, Sergio Massa.
Em sites pró-Milei, vídeos de boletins de voto rasgados ou contagens provisórias que diferem do resultado final – que as autoridades eleitorais dizem ser bastante comum – procuraram lançar dúvidas sobre o processo após o primeiro turno de 22 de outubro.
A anti-establishment Milei ficou em segundo lugar entre cinco candidatos no primeiro turno de votação, obtendo quase 30 por cento dos votos, atrás de Massa, com 36,7 por cento.
AFP Fact Check refutou a veracidade de muitas das imagens compartilhadas.
Algumas foram divulgadas pelo consultor político de direita Fernando Cerimedo, que também é conhecido por ter divulgado alegações não comprovadas de fraude nas eleições brasileiras vencidas no ano passado pelo esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva.
Recentemente, o porta-voz de Milei, Guillermo Francos, afirmou: "Não direi que houve fraude" no primeiro turno de votação na Argentina, por falta de provas concretas.
Mesmo assim, Milei esta semana, em entrevista no YouTube, afirmou que houve "irregularidades de tal magnitude que lançaram dúvidas sobre o resultado".
No fim de semana passado, uma marcha contra uma suposta fraude eleitoral reuniu algumas centenas de apoiadores de Milei em Buenos Aires, embora imagens nas redes sociais mostrassem aglomerações em massa de outros eventos não relacionados.
No meio do ataque, a Câmara Eleitoral Nacional da Argentina, que interpreta a legislação eleitoral, emitiu uma declaração denunciando "alegações infundadas de fraude que desinformam a opinião pública e minam a democracia".
Afirmou que nos 40 anos desde que a Argentina regressou à democracia, ocorreram "33 processos eleitorais nacionais de vários tipos, todos com resultados aceites e reconhecidos e legitimidade indiscutível".
Na primeira volta de votação, a CNE recebeu 105 denúncias de suspeitas de irregularidades – um número consistente com outras eleições, disse a agência.
Até à data, nenhum partido político ou indivíduo apresentou qualquer queixa formal relativa a fraude ou irregularidades, acrescentou a CNE.
Alejandro Tullio, diretor nacional das eleições argentinas de 2001 a 2016, disse à AFP que a "narrativa de fraude" não era novidade – "já observada em vários países".
O seu objectivo, disse ele, é "minar a credibilidade de uma eleição, ou das suas autoridades de supervisão... (a) deslegitimação maliciosa dos resultados".
Segundo o analista político Carlos Fara, é uma estratégia conhecida "questionar as regras do jogo se estas não favorecem o denunciante".
"Vimos isso com Bolsonaro, com Trump, e agora vemos isso com Milei", disse ele à AFP.
"Este é o álibi típico: se ganhei foi apesar da fraude, se perdi foi por causa da fraude", disse Fara.
A recém-chegada política Milei entrou em cena prometendo dolarizar a em dificuldades economia argentina, livrar-se do banco central e cortar gastos públicos, estimulando uma população desesperada por mudanças.
Ele é antiaborto e pró-armas, e transmitiu sua mensagem com adereços como uma serra elétrica que ele usou durante a campanha.
Milei é admiradora do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, e teve um filho de Bolsonaro que o apoiou em sua sede de campanha na noite da eleição.
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