Apesar do sucesso de 'Pinóquio', Del Toro teme pelo cinema mexicano
Apesar de seu sucesso internacional, incluindo uma nova adaptação do clássico conto de marionetes "Pinóquio", o diretor mexicano vencedor do Oscar Guillermo del Toro teme que a indústria cinematográfica de seu país esteja enfrentando uma "destruição sistemática".
A versão animada de Del Toro de "Pinóquio", na qual um entalhador idoso e seu boneco vivo se encontram na Itália fascista dos anos 1930, foi o filme mais assistido na plataforma de streaming Netflix na semana de 12 a 18 de dezembro.
Sua estreia em 9 de dezembro aconteceu uma semana antes do lançamento de "Bardo", uma história autobiográfica de um jornalista-cineasta voltando para casa depois de anos em Los Angeles, pelo compatriota mexicano Alejandro Gonzalez Iñarritu.
Atores mexicanos também tiveram sucesso recente em Hollywood, incluindo Tenoch Huerta, a estrela em ascensão da sequência de "Pantera Negra", o primeiro grande filme de super-herói negro.
Del Toro, Iñarritu e Alfonso Cuarón representam uma geração de ouro de cineastas mexicanos que ganharam o troféu de melhor diretor no Oscar cinco vezes desde 2013.
O romance de fantasia de Del Toro, "A Forma da Água", ganhou o prêmio de melhor filme e melhor diretor no Oscar de 2018.
No ano seguinte, Cuarón ganhou três estatuetas de ouro por "Roma" - um filme intimista em preto e branco sobre uma família em crise na Cidade do México dos anos 1970.
Mas, em contraste com a aclamação internacional do trio, apelidado de "Os Três Amigos", del Toro agora alertou que a indústria cinematográfica do país está enfrentando desafios "sem precedentes".
"A destruição sistemática do cinema mexicano e de suas instituições – que levou décadas para ser construída – foi brutal", tuitou recentemente.
Del Toro destacou um anúncio da Academia Mexicana de Artes e Ciências Cinematográficas de que o Ariel Awards do ano que vem - o equivalente ao Oscar no país - foi adiado até novo aviso devido a uma "séria crise financeira".
A organização disse lamentar que "o apoio de recursos públicos tenha diminuído consideravelmente nos últimos anos.
"O Estado, que durante muito tempo foi o motor e suporte da academia, renunciou à sua responsabilidade como principal promotor e divulgador da cultura em geral e do cinema em particular", acrescentou.
Del Toro até se ofereceu para pagar as estatuetas de Ariel do próprio bolso.
"Ele é um colega generoso, um artista que está sempre atento ao que está acontecendo não só com a cinematografia mexicana, mas com as artes em geral no país", disse a presidente da Academia, Leticia Huijara.
Ela preferiria, no entanto, um acordo com o Estado.
Enquanto isso, os Ariels foram adiados, confirmou Huijara à AFP.
Maria Novaro, gerente geral do Instituto Mexicano de Cinema (Imcine), órgão do governo, acha que as advertências são exageradas.
"Del Toro diz que não há mais cinema mexicano no ano em que nunca houve tantas produções", disse ela, elogiando um "recorde" de 256 filmes em 2021.
"E 56 por cento receberam apoio de dinheiro público. A Imcine dedica 900 milhões de pesos (US$ 45 milhões) por ano para financiar o cinema mexicano", disse Novaro.
"É bom que a Netflix produza muito conteúdo no México. Mas não substitui o que a Imcine faz", acrescentou.
O cinema mexicano viveu uma época de ouro entre as décadas de 1930 e 1950, com estrelas de cinema como Dolores del Rio e Pedro Armendariz.
Mas a indústria passou por um período de silêncio antes de desfrutar de um renascimento, ajudado nos últimos anos pelo sucesso de "Os Três Amigos".
O cinema mexicano tornou-se agora descentralizado e diversificado, de acordo com Novaro, refletindo as prioridades do presidente Andrés Manuel Lopez Obrador de ajudar os mexicanos pobres e indígenas.
Desde 2019, existe um programa de incentivo ao cinema indígena e afrodescendente, com 56 filmes em produção, disse Novaro.
"Estão começando a sair filmes que falam sobre a migração a partir da perspectiva dos próprios migrantes indígenas", acrescentou.
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