Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro protestam contra o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília
Reuters

O próximo ministro da Justiça do Brasil prometeu na terça-feira responsabilidade pelos apoiadores do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, que queimaram ônibus e atacaram a polícia no dia em que as autoridades certificaram a vitória do presidente eleito de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva.

Flavio Dino também disse à GloboNews que quaisquer autoridades consideradas responsáveis por não conter os manifestantes em Brasília na noite de segunda-feira também enfrentariam punição, sem "anistia mágica", à medida que aumentavam as dúvidas sobre a resposta oficial aos protestos violentos.

Membros seniores do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Federal Eleitoral (TSE) acreditam que as forças de segurança de Brasília foram muito lenientes e deveriam ter agido com mais força, disseram duas fontes judiciais à Reuters, no mais recente exemplo de tensões entre o judiciário e a lei do distrito federal execução.

Em entrevista na noite de segunda-feira, o chefe de segurança de Brasília, Júlio Danilo, negou falhas de segurança, dizendo que os envolvidos serão identificados e responsabilizados.

Os protestos de segunda-feira na capital, nos quais apoiadores de Bolsonaro atearam fogo a carros e ônibus após tentar invadir a sede da Polícia Federal após a prisão de um líder do protesto, coroaram semanas de tensões pós-eleitorais.

Embora não tenha impedido a transferência do poder, Bolsonaro se recusou a admitir a derrota, e alguns apoiadores acamparam do lado de fora das bases do Exército instando os militares a anular o resultado da eleição presidencial de outubro, citando teorias da conspiração de que a eleição foi "roubada".

Dino disse esperar que os manifestantes agora vejam a futilidade de suas ações e os instou a voltar para suas casas.

"Acabou, a página foi virada, vamos olhar para frente. Em 2026, haverá novas eleições", disse.

No entanto, isso pode ser otimista, disseram especialistas em segurança pública à Reuters, mesmo com as perspectivas de curto prazo parecendo complicadas.

"O problema é que não sabemos se isso foi um alerta do que ainda está por vir ou se já esvaziaram a câmara", disse João Roberto Martins Filho, especialista em relações militares da Universidade Federal de S. ?o Carlos, em referência à posse de Lula em 1º de janeiro.

Em entrevista à GloboNews, Dino disse que manteve contato regular com o governador de Brasília, Ibaneis Rocha, bem como com o departamento de segurança pública, sobre os arranjos de policiamento para a posse de Lula. Mas ele notou um "silêncio estranho" das autoridades federais, em uma crítica velada à equipe de Bolsonaro.

O presidente mal falou em público desde a derrota para Lula em 30 de outubro, e o único comentário de seu governo na segunda-feira veio do ministro da Justiça, Anderson Torres.

"Nada justifica as cenas lamentáveis que vimos no centro de Brasília", escreveu ele em um tuíte.

Parlamentares da oposição questionaram por que não houve prisões dos manifestantes pelas forças de segurança de Brasília.

"Acho que é hora de pensar em interpretar com mais rigor a indulgência dos atuais governantes, que estão cedendo de forma irresponsável e permissiva a essas práticas criminosas", disse Fábio Trad, parlamentar federal da equipe de transição de Lula.

O departamento de segurança pública de Brasília disse em um comunicado na terça-feira que os distúrbios foram controlados, mas nenhuma prisão relacionada a "distúrbios civis" ocorreu.

Dentro do STF e do TSE, os distúrbios de segunda-feira aumentam o descontentamento crescente com as forças de segurança de Brasília por não serem duras com os apoiadores de Bolsonaro que veem os ministros como seus principais inimigos, disseram as duas fontes sob condição de anonimato.

No ano passado, disse uma das fontes, o STF pediu ao governador Rocha que desse mais segurança aos funcionários do tribunal para protegê-los de partidários de Bolsonaro que se aproximassem do tribunal. Não ficou claro se foi fornecido. Ambas as fontes disseram acreditar que era hora de desmantelar o acampamento de protesto estabelecido fora do quartel-general em Brasília.

O Ministério da Justiça não respondeu a um pedido de comentário sobre se tal plano estava em andamento.