Aulas de dança dão esperança aos prisioneiros portugueses
Dentro de uma prisão portuguesa de segurança máxima, seis reclusos movem-se graciosamente numa série de passos de dança improvisados, agarrados a adereços e seguindo o ritmo da música.
Do lado de fora, os altos muros da prisão do Linho, nos subúrbios ocidentais de Lisboa, são forrados com arame farpado e um alto-falante dá instruções aos presos em voz metálica.
Mas no estúdio de dança contemporânea, em uma antiga capela reformada, as detentas dançam livremente ao som de música clássica com um objeto de sua escolha: um lenço, uma bola, sacolas plásticas ou uma lâmpada.
"Dance -- com poesia!" chama a professora, a bailarina Catarina Camara, 47 anos.
Ela espera que as aulas – parte de um projeto de dança social que começou em abril de 2019 – possam ajudar a mudar a mentalidade de alguns dos jovens presos.
"Quando estamos aqui, parece que não estamos na prisão", diz o recluso Manuel Antunes, de 30 anos.
"Podemos nos deixar levar, levados pelo momento e pelo que sentimos."
Há cerca de 500 presos no Linho, muitos deles jovens que cometeram crimes graves e foram condenados a 15 anos ou mais.
Cerca de uma dezena já fazem parte do projeto de dança.
"Seria muito ingênuo dizer que a prática artística salva as pessoas", disse Camara à AFP.
"Mas a arte, aliada a outros fatores, pode ser decisiva para mudar a vida de alguém."
Ela diz que muitos dos presos são "meninos que cresceram na rua e tiveram que se virar sozinhos muito cedo".
"Eles erraram. Alguns bagunçaram seriamente e realmente precisam ser apoiados."
Fabio Tavares, 28 anos, diz ser uma dessas pessoas.
Nunca se interessou por dança contemporânea antes das aulas de Camara, e acredita que ela o "transformou completamente".
"Achei que seria inútil... (mas) a dança e as discussões que temos aqui me ajudam a ver as coisas de maneira diferente", diz.
Os resultados têm sido positivos, além do impacto direto das aulas, segundo o diretor do presídio, Carlos Moreira.
Os presos que participam do projeto de dança são "mais tolerantes com os outros" e menos propensos a violar as regras da prisão, diz ele.
Camara espera que, como "a dança oferece essa experiência de liberdade", ela possa ajudar os homens a "se prepararem para o espaço de liberdade" que encontrarão quando saírem da prisão.
Terminada a pena, Tavares pretende continuar dançando e já recebeu treinamento da coreógrafa Olga Roriz.
Roriz, que trabalha com a Camara, encenou um espectáculo com os prisioneiros-dançarinos no Verão passado, em Lisboa.
Os dançarinos agora se preparam para seu próprio show dentro da prisão.
"Sinto-me leve quando estou aqui", diz Tavares.
"Às vezes até parece que não estou na prisão, mas fora, em uma aula de dança normal."
© Copyright 2024 IBTimes BR. All rights reserved.