Autoridades eleitorais do Brasil se preparam para votação tensa de domingo enquanto Bolsonaro grita falta
As autoridades eleitorais do Brasil estão se preparando para uma eleição competitiva no domingo, com um resultado que pode ser contestado pelo presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro se ele perder para seu adversário de esquerda, que tem uma vantagem estreita nas pesquisas de opinião recentes.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), liderado por ministros do STF, está pronto para que Bolsonaro conteste qualquer vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, potencialmente mobilizando manifestações iradas, segundo pessoas familiarizadas com os preparativos do tribunal que pediram anonimato para compartilhar as informações.
"O que vemos é uma série de coisas destinadas a desestabilizar e atrapalhar o processo eleitoral", disse uma fonte judicial sênior à Reuters, minimizando o risco de agitação generalizada.
"Temos que acompanhar de perto o que vai acontecer e manter contato com as forças de segurança para evitar tumultos nas ruas", disse a fonte.
Quatro fontes disseram à Reuters que o TSE e a Suprema Corte têm planos de reforçar a segurança para juízes e instituições no domingo, e esperam que as tensões possam durar até que o resultado da eleição presidencial seja certificado em 19 de dezembro.
Duas pesquisas nesta quinta-feira mostraram Lula mantendo uma vantagem de 5 ou 6 pontos percentuais, em linha com sua vantagem no primeiro turno da votação de 2 de outubro.
Os mercados financeiros precificaram amplamente a vitória de Lula, mas a incerteza sobre um resultado contestado deixa alguns no limite.
"Há apreensão sobre se o resultado da eleição será respeitado", disse Emy Shayo, estrategista de ações do JP Morgan. "O que todo mundo quer agora é uma definição, independentemente do que seja", disse ela.
Bolsonaro, um populista de extrema direita que argumentou sem evidências de que o sistema de votação eletrônica do Brasil é vulnerável a fraudes, intensificou seus ataques ao TSE nesta semana. Ele acusou o tribunal de tratar mal uma denúncia de que as estações de rádio deram a Lula mais tempo no ar para anúncios de campanha.
O TSE rejeitou a denúncia em uma decisão na quarta-feira por falta de provas e pediu ao procurador-geral do Brasil que investigue a campanha de Bolsonaro por possível intenção de atrapalhar a eleição.
Um dos filhos do presidente, o senador Flavio Bolsonaro, disse nas redes sociais que seu pai foi vítima da "maior fraude eleitoral já vista". Outro filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, disse a jornalistas que para tratar o assunto de forma adequada pode ser necessário adiar a eleição.
Altos funcionários da campanha de Bolsonaro disseram publicamente que o adiamento da eleição não está em discussão. A questão dividiu os assessores do presidente, alguns dos quais consideram a estratégia uma distração para conquistar eleitores indecisos, segundo fontes da campanha.
Outro alto funcionário do Judiciário disse à Reuters que o pivô de Bolsonaro em atacar o próprio TSE tornou as perspectivas pós-eleitorais "imprevisíveis".
Os aliados de Bolsonaro pediram que apoiadores compareçam na esplanada central de Brasília no domingo para acompanhar a contagem de votos no que os organizadores chamaram de "Partido da Vitória".
Bolsonaro também pediu aos apoiadores que fiquem nas urnas até que elas fechem às 17h (2000 GMT) de domingo, o que os críticos dizem que pode intimidar os eleitores e levar a confrontos.
Lula, ex-líder sindical que fundou o Partido dos Trabalhadores e liderou o Brasil de 2003 a 2010, pediu aos eleitores que defendam a democracia brasileira do "neofascismo" de Bolsonaro.
Aumentando o clima de incerteza, Bolsonaro, um ex-capitão do Exército, pressionou os militares a endossar publicamente suas alegações de que o sistema de votação é vulnerável a fraudes. As forças armadas verificaram algumas máquinas de votação durante o primeiro turno para ter certeza de que os recibos em papel estavam alinhados com os resultados transmitidos digitalmente, mas não relataram suas descobertas.
Assessores de Lula, incluindo o ex-ministro da Defesa Celso Amorim, disseram que estão prontos para a agitação, mas não veem como as Forças Armadas apoiarão qualquer movimento inconstitucional de Bolsonaro.
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