Bolsonaro deixa o Brasil com dois dias de mandato
O presidente cessante do Brasil, Jair Bolsonaro, que não reconheceu sua derrota eleitoral, deixou o país na sexta-feira, dois dias antes da posse de seu sucessor e pouco depois de se despedir de seus seguidores com lágrimas nos olhos.
O polêmico líder de extrema-direita partiu para a Flórida, nos Estados Unidos, em um avião da força aérea por volta das 14h (17h no horário de Brasília), segundo vários meios de comunicação.
"Estou voando, volto em breve", informou a CNN Brasil, segundo Bolsonaro.
Seu avião pousou em Orlando pouco depois das 21h (02h00 GMT de sábado), de acordo com o site de rastreamento de aviação FlightAware.
Isso significa que ele perderá a posse de domingo e não transferirá a faixa presidencial para o presidente eleito de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, como é tradição.
Bolsonaro é tecnicamente presidente por mais dois dias.
Seu vice-presidente, Hamilton Mourão, agora é presidente interino e fará um discurso nacional no sábado, segundo a emissora pública RNR.
A presidência não respondeu às perguntas da AFP sobre o momento e o objetivo da viagem de Bolsonaro.
Mais cedo na sexta-feira, Bolsonaro garantiu a apoiadores em uma transmissão ao vivo nas redes sociais que "não veremos o mundo acabar em 1º de janeiro", quando Lula assumir o manto presidencial.
"Temos um grande futuro pela frente", declarou o presidente cessante, acrescentando: "As batalhas estão perdidas, mas não perderemos a guerra."
Foi o primeiro discurso ao vivo de Bolsonaro desde sua estreita derrota em outubro, após a qual o usuário ativo da mídia social ficou estranhamente silencioso.
Lula venceu a eleição com 50,9% dos votos contra 49,1% de Bolsonaro.
Sua posse seria a primeira desde 1985 sem que o presidente cessante transferisse a faixa presidencial para seu sucessor.
Naquele ano, o último presidente da ditadura militar, general João Batista Figueiredo, esnobou a posse de José Sarney, segundo reportagens da época do jornal O Globo.
Dirigindo-se a centenas de seguidores que continuam protestando do lado de fora de instalações militares em Brasília e outras cidades exigindo a intervenção do exército para impedir a ascensão de Lula, Bolsonaro disse que deu o seu melhor.
"Eu nunca esperei chegar aqui", disse ele, em lágrimas.
"Pelo menos, atrasamos em quatro anos o colapso do Brasil nessa ideologia nefasta, que é a esquerda... Diga o melhor de mim", acrescentou Bolsonaro, que segundo a maioria dos analistas deixa um histórico ruim que inclui destruição ambiental e Caos Covid-19.
Segundo o Diário do Governo desta sexta-feira, a presidência havia autorizado uma delegação a viajar com Bolsonaro a Miami de 1º a 30 de janeiro para fornecer "segurança e apoio pessoal".
O líder cessante falou pela primeira vez na sexta-feira sobre um ataque a bomba fracassado em Brasília há uma semana por um homem que disse ser um apoiador de Bolsonaro tentando semear "caos" antes da posse e "impedir o estabelecimento do comunismo no Brasil" sob Lula.
"Nada justifica essa tentativa de terrorismo", disse Bolsonaro.
A tentativa frustrada com explosivos colocados em um caminhão de combustível, bem como atos de vandalismo praticados por outros torcedores de Bolsonaro, levaram as autoridades a mobilizar um contingente de segurança inédito para a posse de domingo.
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