De volta ao Brasil, Lula enfrenta escolhas difíceis para formar um novo governo
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva voltou ao Brasil no domingo, depois de aproveitar a glória de uma turnê internacional, para enfrentar a difícil tarefa de definir seu governo em meio ao nervosismo nos mercados financeiros e divisões em sua coalizão.
Enquanto Lula era aplaudido por aliados em Portugal e na cúpula do clima das Nações Unidas, as difíceis compensações que enfrentava em casa ameaçavam estragar seu partido pós-eleitoral.
A moeda brasileira caiu cerca de 5% e o índice de referência Bovespa caiu quase 8% nas últimas duas semanas, com os investidores ficando impacientes com a falta de clareza sobre as principais políticas econômicas de Lula.
Membros da equipe de transição de Lula expressaram opiniões divergentes sobre as negociações do orçamento de 2023 e a disputa pela liderança do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O presidente eleito apoiou os esforços para criar uma exceção permanente a uma regra fiscal sem propor outra.
"São dois Lulas. Lá fora ele é uma lenda que aparece forte e vitoriosa, recuperando o papel do Brasil como jogador mundial, o que é importante. Mas dentro de casa as coisas estão muito complicadas", disse o analista André Cesar, da Hold Legislative Advisors, agência política de Brasília consultoria de risco.
"O mito do Lula está sendo posto à prova", acrescentou César.
Ele disse que a primeira visita de Lula a Brasília neste mês foi rápida e arejada, sem reuniões extensas para formalizar a ampla frente política que ele precisa para governar, já que seus aliados de esquerda são minoria no Congresso.
Na segunda-feira, a presidente do Partido dos Trabalhadores de Lula, Gleisi Hoffmann, disse que o presidente eleito não nomearia nenhum ministro esta semana e estaria em Brasília na quarta-feira.
"Ele não tem pressa. São as pessoas do mercado que estão mais ansiosas", disse ela aos repórteres, acrescentando que Lula "tem tudo resolvido na cabeça".
Espera-se que Lula comece as entrevistas esta semana com os candidatos a administrar a petrolífera Petroleo Brasileiro SA, que ele disse que não privatizará, disseram à Reuters pessoas familiarizadas com o assunto.
Lula foi recebido como uma estrela do rock nas negociações climáticas da ONU em Sharm el-Sheikh, prometendo reprimir o desmatamento na Amazônia, onde a extração ilegal de madeira e a mineração de ouro aumentaram sob o presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro.
Mas os críticos disseram que a lua de mel presidencial no exterior foi um erro.
"Lula deveria ter ficado aqui e não ter ido à cúpula do clima no Egito. Há muitos problemas e o país está fervendo", disse José Medeiros, deputado do Partido Liberal, de direita, que deve se tornar o maior partido da oposição quando o novo governo toma posse em 1º de janeiro.
Até os aliados de Lula estão preocupados com a lentidão das decisões, com tensões crescentes entre os assessores sobre o equilíbrio entre previdência social e disciplina fiscal.
Ressaltando as tensões na equipe de transição, o ex-ministro da Fazenda de Lula, Guido Mantega, renunciou na quinta-feira em meio a críticas sobre seu histórico em política fiscal e sua resistência ao indicado do Brasil para comandar o BID, Ilan Goldfajn.
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