Prédio da sede do Banco Central em Brasília
Pessoas caminham em frente ao prédio da sede do Banco Central em Brasília, Brasil, 25 de agosto de 2021. Reuters

O Banco Central do Brasil disse na quarta-feira que 12,2% dos tomadores de empréstimos de instituições financeiras autorizadas estão em situação de "endividamento de risco", com o número total de brasileiros nessa categoria quase triplicando desde 2019.

Os dados mostram que mais consumidores estão enfrentando dificuldades para quitar dívidas em meio à expansão do acesso ao sistema financeiro, por conta do boom das fintechs e do auxílio previdenciário de pagamentos digitais durante a pandemia, que aumentou o número de usuários.

Maurício Moura, diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta do Banco Central, disse em conferência sobre superendividamento que o número de devedores em "endividamento de risco" subiu para 12,2 milhões de pessoas em junho.

Em dezembro de 2019, eram 4,6 milhões, ou 5,4% do total, segundo estudo do banco central.

Os devedores são considerados de risco pelo banco central se apresentarem pelo menos duas das seguintes situações: incumprimento há mais de 90 dias; renda disponível mensal abaixo da linha de pobreza após o pagamento do serviço da dívida; exposição simultânea a linhas de crédito mais caras; e comprometimento de mais de 50% da renda mensal com o pagamento do serviço da dívida.

Os dados se somam a outros indicadores que destacam o crescente endividamento do consumidor em meio a custos de empréstimos mais altos, depois que o banco central elevou agressivamente as taxas de juros para 13,75%, de uma mínima recorde de 2% em março de 2021 para combater a inflação na maior economia da América Latina.

O presidente eleito de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, que toma posse em 1º de janeiro, prometeu lançar um amplo programa de renegociação de dívidas de consumidores apoiado por garantias do governo para enfrentar um problema que começou a aparecer nos resultados de alguns bancos.

Os empréstimos livres para pessoas físicas e jurídicas aumentaram para 4,2% em outubro, o maior nível em quase quatro anos.

O banco central alertou recentemente para sua crescente preocupação com os efeitos da menor atividade econômica sobre os riscos de crédito no país, apontando para um aumento significativo dos riscos no financiamento às famílias neste ano.

Segundo os formuladores de políticas, a capacidade de pagamento dos indivíduos piorou, apesar dos melhores indicadores econômicos e trabalhistas, e o cenário tende a se tornar mais desafiador à medida que a economia desacelera.

Economistas privados preveem que o PIB brasileiro crescerá 0,7% em 2023, após uma expansão de 2,8% este ano, de acordo com uma pesquisa semanal do banco central.