Líderes mundiais se reúnem para negociações climáticas sob nuvem de crises
Líderes mundiais se reuniram na segunda-feira para negociações climáticas no Egito, enfrentando pressão para aprofundar os cortes nas emissões e apoiar financeiramente os países em desenvolvimento já devastados pelos efeitos do aumento das temperaturas.
A cúpula climática da COP27 da ONU no resort de Sharm el-Sheikh, no Mar Vermelho, ocorre no momento em que nações em todo o mundo enfrentam desastres naturais cada vez mais intensos que ceifaram milhares de vidas somente este ano e custaram bilhões de dólares.
Na cerimônia de abertura no domingo, as autoridades da COP27 pediram aos governos que mantenham os esforços para combater as mudanças climáticas, apesar do aumento da inflação, da crise de energia ligada à guerra da Rússia contra a Ucrânia e da persistente pandemia de Covid-19.
"O medo é que outras prioridades tenham precedência", disse Simon Stiell, alto funcionário das Nações Unidas para as mudanças climáticas, em entrevista coletiva.
O "medo é que percamos mais um dia, outra semana, outro mês, outro ano - porque não podemos", disse ele.
O mundo deve reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 45% até 2030 para limitar o aquecimento global em 1,5 graus Celsius acima dos níveis do final do século 19.
Mas as tendências atuais verão a poluição por carbono aumentar 10% até o final da década e a superfície da Terra aquecer 2,8°C, de acordo com descobertas divulgadas nos últimos dias.
Apenas 29 dos 194 países apresentaram planos climáticos melhorados, conforme solicitado nas negociações da ONU em Glasgow no ano passado, observou Stiell.
Quase 100 chefes de Estado e de governo começaram a chegar para dois dias de conversações, com a notável ausência do líder chinês Xi Jinping, cujo país é o maior emissor mundial de gases de efeito estufa.
O presidente dos EUA, Joe Biden, cujo país ocupa o segundo lugar na lista dos maiores poluidores, se juntará à COP27 no final desta semana, após as eleições de meio de mandato na terça-feira, que podem colocar os republicanos hostis à ação internacional sobre mudanças climáticas a cargo do Congresso.
O presidente francês, Emmanuel Macron, pediu aos Estados Unidos, China e outras nações ricas não europeias que "intensifiquem" seus esforços para reduzir as emissões e fornecer ajuda financeira a outros países.
"Os europeus estão pagando", disse Macron a ativistas climáticos franceses e africanos à margem da COP27. "Somos os únicos a pagar."
Recém-chegado de sua própria vitória eleitoral, o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva deve participar da cúpula mais tarde, com grandes esperanças de que ele proteja a Amazônia do desmatamento depois de derrotar o presidente cético Jair Bolsonaro.
Outro novo líder, o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak, reverteu a decisão de não participar das negociações e deve instar os países a avançar "mais e mais rápido" na transição para longe dos combustíveis fósseis.
No domingo, os chefes dos países em desenvolvimento obtiveram uma pequena vitória quando os delegados concordaram em colocar a polêmica questão do dinheiro para "perdas e danos" na agenda da cúpula.
O Paquistão, que preside o poderoso bloco de negociação G77+China de mais de 130 nações em desenvolvimento, fez do assunto uma prioridade.
"Definitivamente, consideramos isso um sucesso para as partes", disse Sameh Shoukry, do Egito, que preside a COP27.
Os Estados Unidos e a União Europeia arrastaram os pés sobre o assunto há anos, temendo que isso criasse uma estrutura de reparações sem fim.
Mas o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, saudou a inclusão de perdas e danos, twittando que a "crise climática tem impactos além do que os países vulneráveis podem suportar sozinhos".
Espera-se também que as nações ricas estabeleçam um cronograma para a entrega de US$ 100 bilhões por ano para ajudar os países em desenvolvimento esverdear suas economias e construir resiliência contra futuras mudanças climáticas.
A promessa já está vencida há dois anos e ainda falta US$ 17 bilhões, segundo a OCDE.
A segurança é reforçada na reunião, com a Human Rights Watch dizendo que as autoridades prenderam dezenas de pessoas por convocar protestos e restringiram o direito de manifestação nos dias que antecederam a COP27.
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