Lula busca aliado próximo como próximo ministro da Fazenda do Brasil
Quando o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, foi impedido de concorrer ao cargo há quatro anos, ele recorreu a um de seus aliados de maior confiança para assumir a bandeira de seu Partido dos Trabalhadores (PT) na corrida presidencial de 2018.
O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad tornou-se um nome familiar durante aquela campanha fracassada, mas nunca houve dúvidas de quem estava manipulando o PT. Haddad fez peregrinações quase semanais naquele ano a uma cela onde Lula foi mantido sob acusações de suborno posteriormente rejeitadas pelo Supremo Tribunal Federal.
Agora confrontado com a escolha de gabinete mais importante de seu nascente terceiro mandato, Lula, 77 anos, voltou-se para o mesmo confidente e substituto de 59 anos, escolhendo Haddad como seu ministro da Fazenda para afastar a economia brasileira do crescimento fraco, alta inflação e níveis precários de endividamento.
Para os investidores que esperavam que Lula entregasse a política econômica a especialistas mais ortodoxos e amigáveis ao mercado, como fez no início de sua presidência de 2003-2010, a confirmação do papel de Haddad na sexta-feira, sinalizada nas últimas semanas pela Reuters, foi uma decepção.
O real do Brasil enfraqueceu mais de 1% em relação ao dólar depois que o nome de Haddad foi anunciado.
Mas para os que acompanham Lula de perto, a mudança não surpreende.
Ele disse a associados que queria um político veterano como ministro das Finanças. E ele se recusou ao longo da campanha deste ano a designar um porta-voz para suas ideias econômicas.
Para alguns observadores, a escolha de alguém que serviu como seu procurador para ministro da Fazenda é um sinal da confiança de Lula em suas próprias ideias políticas, incluindo gastos anticíclicos do governo, robustos programas de bem-estar e política industrial centrada no Estado.
SUBESTUDAR OU PROTEGER?
O relacionamento próximo de Haddad com Lula fortalecerá sua mão, disse o analista político Thomas Traumann, que escreveu um livro com o perfil de mais de uma dúzia de ministros da Fazenda brasileiros. Mas ele precisará formar uma equipe de especialistas com credibilidade no mercado, acrescentou Traumann, e as relações com o Congresso podem ser complicadas.
"O principal problema... é que muitos o veem como um potencial candidato presidencial para 2026", disse Traumann. "Portanto, uma grande parte do Congresso, o establishment e até mesmo alguns parceiros do governo não ficarão totalmente satisfeitos com seu sucesso."
Haddad nunca teve vergonha de seu papel como substituto.
Ele comemorou a vitória na corrida para prefeito de São Paulo em 2012 como uma vitória por procuração de Lula e só entrou na corrida presidencial de 2018 a pedido de Lula.
Haddad concorreu ao governador de São Paulo no mês passado, fazendo campanha ao lado de Lula em todo o estado e tendo um desempenho ligeiramente inferior a ele na derrota no segundo turno.
Embora Haddad enfrente o ceticismo dos investidores como um fiel do Partido dos Trabalhadores, ele também tem críticas dentro do PT devido à sua formação afluente, trajetória acadêmica e visões políticas relativamente moderadas.
Advogado com mestrado em economia e doutorado em filosofia pela prestigiada Universidade de São Paulo, Haddad trabalhou brevemente como analista de investimentos antes de ingressar no serviço público. Mais recentemente, ele lecionou na escola de negócios de São Paulo Insper.
Durante o primeiro mandato de Lula, Haddad ajudou a elaborar uma estrutura legal para parcerias público-privadas como assessor do Ministério da Fazenda antes de se tornar ministro da Educação em 2005.
Como prefeito de São Paulo de 2013 a 2016, ele renegociou a dívida da cidade com o governo federal, reduzindo-a em cerca de R$ 50 bilhões (US$ 9,6 bilhões).
Uma de suas propostas econômicas durante os debates deste ano entre os assessores de Lula foi uma alternativa ao atual teto constitucional que limita o crescimento dos gastos do governo à taxa de inflação. Pessoas familiarizadas com as negociações dizem que ele sugeriu um ajuste adicional ao teto com base em outro indicador, como o produto interno bruto.
($ 1 = 5,2307 reais)
© Copyright 2024 IBTimes BR. All rights reserved.