Um logotipo da estatal brasileira Petrobrás é visto em sua sede no Rio de Janeiro
Um logotipo da Petrobras, estatal brasileira, é visto em sua sede no Rio de Janeiro, Brasil, em 16 de outubro de 2019. Reuters

O presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, começa esta semana entrevistas com candidatos para comandar a petrolífera Petrobras, disseram pessoas familiarizadas com as negociações, dando início ao que pode ser alguns meses difíceis para a empresa estatal.

Lula, que toma posse em 1º de janeiro, já sinalizou planos para uma reforma dramática da Petróleo Brasileiro SA, como a empresa é formalmente conhecida.

No lixo, segundo Lula e seus assessores: a privatização da empresa. Elaborado desde 2019, o plano estava pronto para ser implementado no próximo ano caso Jair Bolsonaro fosse reeleito, segundo alguns de seus elaboradores.

De volta à prancheta: investimentos em energia renovável, refinarias, geração de empregos e desenvolvimento econômico regional do tipo que fez da Petrobras um gigante da energia integrada durante a presidência de Lula de 2003 a 2010.

Para realizar essa reinicialização da estratégia da Petrobras, Lula planeja uma ampla rotatividade nos escalões de gerenciamento de primeiro e segundo nível da empresa, disseram pessoas familiarizadas com seu pensamento.

A equipe de transição de Lula não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

Dada a escala de suas ambições, Lula tem pouco tempo a perder. Mas, tecnicamente, pode levar de dois a quatro meses até que ele possa instalar um novo C-suite, devido a novos regulamentos.

As regras da empresa exigirão pelo menos 45 dias para verificação, aprovação do conselho e votação dos acionistas sobre o membro do conselho que será o próximo executivo-chefe. No entanto, esse cronograma mais agressivo exigiria que o atual CEO Caio Paes de Andrade renunciasse em 1º de janeiro. Seu mandato termina tecnicamente em abril.

Andrade, ex-funcionário do Ministério da Economia sem experiência anterior no setor petrolífero, não deu sinais até agora de que está disposto a fazê-lo, segundo pessoas próximas a ele.

A Petrobras se recusou a comentar em nome de Andrade.

Bolsonaro, que o indicou, evitou conceder publicamente a Lula, seu inimigo político, e poucos esperam que ele colabore voluntariamente com a transição de governo.

A direção da Petrobras está preparando uma apresentação de 90 slides, dez de cada alto executivo, incluindo o CEO, para a equipe de transição de Lula, como parte da entrega formal, segundo fontes da empresa.

LISTA RESUMIDA

Até a semana passada, Lula não havia conversado diretamente com candidatos ao cargo máximo da Petrobras, segundo pessoas a par do assunto, embora uma pequena lista tenha se formado.

Isso inclui o senador Jean Paul Prates, que ainda não foi convocado para o cargo apesar de ter viajado com Lula em jato particular para a cúpula do clima COP27 no Egito.

Prates foi assessor de política energética durante a campanha, mas sua nomeação pode enfrentar obstáculos devido à campanha para prefeito de Natal em 2020. Um decreto presidencial proíbe a nomeação de um CEO que fez campanha eleitoral nos últimos 36 meses.

Outros candidatos na lista incluem o ex-governador da Bahia Rui Costa, um aliado próximo de Lula, e Magda Chambriard, ex-chefe do regulador de petróleo e gás ANP, que já trabalhou na Petrobras.

William Nozaki, professor de economia da Universidade de São Paulo FESPSP nomeado na semana passada para a equipe de transição de Lula, está sendo considerado para liderar uma divisão secundária da Petrobras.

Independentemente de quem assuma o cargo de CEO, o Partido dos Trabalhadores insiste que a gestão deve estar alinhada com os planos de Lula para a política climática e as empresas estatais como motores do desenvolvimento econômico.

Isso incluirá a retomada dos investimentos em energias renováveis - a unidade de biocombustíveis e outros ativos não petrolíferos foram vendidos nos últimos anos para quitar dívidas. Sob Bolsonaro, os projetos renováveis foram suspensos e a empresa restringiu os investimentos quase inteiramente à produção de petróleo no mar.

A nova abordagem aproximará a Petrobras da estratégia adotada pelas majors europeias BP PLC e Shell PLC, que estão reduzindo as apostas no petróleo para investir em energia mais limpa.

Os assessores de Lula também dizem que a Petrobras deveria direcionar mais de seus lucros para investimentos, em vez de seus generosos dividendos recentes. Nos últimos dois trimestres, a empresa pagou mais que o dobro do dividendo de qualquer produtor de petróleo europeu ou americano.