Muitos obstáculos aguardam o presidente Lula
O brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que assume a presidência no domingo, enfrenta uma longa lista de obstáculos, desde curar um país profundamente dividido até combater a pobreza e a fome diante de severas restrições orçamentárias.
Uma "tarefa hercúlea" aguarda o novo chefe da maior economia da América Latina, um país de 215 milhões de habitantes, dos quais mais da metade enfrenta insegurança alimentar, admitiu o futuro vice-presidente de Lula, Geraldo Alckmin.
A equipe de transição de Lula culpa quatro anos de "gestão irresponsável" sob o líder de extrema-direita Jair Bolsonaro por mergulhar o país em um estado sombrio de escassez e declínios no bem-estar social, educação, saúde e proteção ambiental.
Para ajudá-lo a enfrentar esses desafios, Lula passou semanas em duras negociações para montar uma equipe de ministros, já pronta.
Esse primeiro obstáculo, antes mesmo de assumir o cargo, fez com que Lula encontrasse uma forma de acomodar os aliados de esquerda que possibilitaram sua eleição, mas também o centro do espectro político de cujo apoio ele precisará no Congresso.
O Senado e a Câmara dos Deputados que emergiram das eleições gerais de outubro agora se inclinam ainda mais para a direita do que antes.
Mas analistas dizem que as mãos de Lula não estão completamente atadas, tendo conseguido montar uma aliança parlamentar frouxa que vai da extrema-esquerda à centro-direita.
Lula, que prometeu "fazer o Brasil feliz de novo", assume as rédeas de um país no qual 58 milhões de pessoas não votaram nele e a quem terá de apaziguar.
A mancha de uma condenação por corrupção, já anulada, fez de Lula um pária para muitos brasileiros, e as eleições de outubro foram ao limite.
Enquanto muitos têm boas lembranças da prosperidade econômica sob as duas primeiras presidências de Lula, de 2003 a 2010, muitos outros votaram nele apenas para ver o apoio de Bolsonaro.
A vitória foi estreita e Lula obteve 50,9% dos votos contra 49,1% de Bolsonaro.
Dois meses após a votação, apoiadores de Bolsonaro ainda protestam do lado de fora dos quartéis militares exigindo a intervenção do Exército para impedir a posse de Lula.
Se ele ouvir sua equipe de transição, as primeiras prioridades de Lula serão acabar com a destruição ambiental que piorou sob o pró-negócio Bolsonaro, melhorar o subfinanciado sistema educacional e combater a desigualdade racial.
Ele também deve procurar restringir a posse de armas de fogo, que explodiu sob seu antecessor conservador e pró-armas.
No cenário internacional, Lula terá pela frente a tarefa de reconciliar o Brasil com aliados alienados pelo ultraconservador e polêmico Bolsonaro.
A equipe de transição de Lula observou que o Brasil "perdeu seu prestígio" nos quatro anos anteriores e que Brasília deve quase um bilhão de dólares em contribuições não pagas a organismos multilaterais, incluindo as Nações Unidas.
O novo presidente tem uma vantagem nessa área: é muito querido no exterior e já foi descrito pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, como "o político mais popular da Terra".
Em particular, a comunidade internacional espera que Lula tome uma atitude firme sobre o clima e o meio ambiente, antes de mais nada, aumentando a proteção da Amazônia.
"Faremos o que for preciso para atingir o desmatamento zero" e o fim da degradação do ecossistema até 2030, prometeu Lula em novembro na cúpula do clima COP27.
Mas, para conseguir isso, ele terá que revigorar os órgãos de supervisão, dizimados sob Bolsonaro, para impedir a extração ilegal de madeira e a mineração sem alienar o poderoso lobby do agronegócio do Brasil - um importante aliado de seu rival.
A situação econômica e social do Brasil também representará um grande desafio para Lula, que disse que sua "prioridade é cuidar dos mais pobres".
A recente aprovação pelo Congresso de uma emenda constitucional que lhe permitiria financiar suas promessas de campanha, pelo menos por um ano, foi um primeiro passo bem-vindo.
Apesar dos limites aos gastos públicos, ele permite que ele aumente o chamado "Bolsa Família" pagamento de bem-estar para as famílias mais pobres do Brasil, bem como o salário mínimo.
Cerca de 125 milhões de brasileiros sofrem de insegurança alimentar e 30 milhões - o mesmo número que Lula é creditado por ter tirado da pobreza durante seus dois primeiros mandatos - estão com fome.
Para Joelson Sampaio, da Fundação Getulio Vargas, o aperto orçamentário será o "maior desafio de Lula nos próximos anos".
O novo presidente terá que "aumentar os gastos sem perspectiva de (aumento) de receitas equivalentes, ao mesmo tempo em que tenta não aumentar os impostos", explicou.
Os mercados temem uma explosão da dívida pública, já em 77% do PIB, sob o comando do líder esquerdista.
Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, "o novo governo terá de propor um quadro de controle orçamentário eficaz" para "evitar uma perda de confiança que teria um efeito dominó na economia".
Ele também terá a tarefa de manter a tendência de queda do desemprego, que é de 8,3%, a menor desde 2015, e manter a inflação sob controle mesmo em meio à desaceleração econômica global, disse Agostini.
As preocupações econômicas foram o principal fator de votação para Lula, um ex-metalúrgico e herói da classe trabalhadora para muitos.
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