O centrista brasileiro Alckmin, a grande aposta de Lula para vice-presidente
Conhecido como um bom administrador, mas um político maçante, o centrista favorável aos negócios do Brasil Geraldo Alckmin é o ala de esquerda que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva está apostando para ajudar a consertar um país profundamente dividido.
O vice-presidente eleito e seu chefe não são exatamente uma combinação óbvia: Alckmin concorreu contra o então presidente Lula na eleição de 2006, perdendo feio no segundo turno.
Mas eles decidiram se unir, dizem eles, para derrotar um inimigo comum: Jair Bolsonaro.
"As pessoas podem achar estranho", disse Alckmin em março, quando se tornou o companheiro de chapa de Lula na disputada eleição que terminou com a vitória no segundo turno no domingo.
"Concorri contra Lula em 2006. Mas nunca colocamos em risco a própria questão da democracia."
Lula nomeou na terça-feira Alckmin para liderar a transição com o governo cessante.
Alckmin, 69, ganhou destaque como governador de São Paulo, o maior e mais rico estado do Brasil, nos anos 2000 e 2010. O anestesista de boas maneiras ganhou reputação como um tipo gerencial sólido e era muito querido pelos setores empresarial e financeiro.
Mas ele havia caído no esquecimento político, ganhando menos de cinco por cento dos votos no primeiro turno da corrida presidencial de 2018, que levou Bolsonaro ao poder.
Cofundador do PSDB, de centro-direita, o principal rival do Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula, Alckmin mudou para o Partido Socialista Brasileiro (PSB), de centro-esquerda, para poder fazer o impensável e ficar como vice-presidente do ex-metalúrgico.
"Temos que abrir os olhos e ter a humildade de ver que hoje (Lula) é a pessoa que melhor reflete e interpreta a esperança do povo brasileiro para o futuro", disse Alckmin.
Alguns anos atrás, ele tinha menos palavras gentis para o ex - e agora futuro - presidente.
"Depois de falir o Brasil, Lula diz que quer ser presidente novamente. Ou seja, amigos, quer voltar ao local do crime", disse Alckmin em 2017.
Mas Lula queria um companheiro de chapa favorável aos negócios para ajudá-lo a montar uma campanha de grande apelo com amplo apelo, reconquistando eleitores centristas que ainda sofrem com a enorme recessão e os escândalos de corrupção que marcaram o fim dos anos do PT no poder (2003-2016). .
Lula, 77, já esteve aqui antes: seu vice-presidente quando era presidente era o empresário de centro-direita José Alencar, que ajudou a convencer os mercados cautelosos de que o ex-sindicalista levava a sério as políticas econômicas ortodoxas.
Assim como Alencar, parece haver pouco risco de Lula ser ofuscado por Alckmin, um político apelidado de "picolé de xuxu" - uma referência a um vegetal sem graça comum no Brasil.
"Eu não sou um showman. Se você quer ver um show, vá assistir a um comediante", disse uma vez o careca e de óculos Alckmin.
Nascido em Pindamonhangaba, pequena cidade nos arredores de São Paulo, Alckmin cresceu em uma família católica devota.
Ele foi vereador e prefeito antes de ganhar uma cadeira no Congresso e, eventualmente, o governo.
Apesar de sua reputação limpa, ele não escapou ileso da enorme investigação de corrupção "Lava Jato" que manchou uma lista de políticos e executivos de negócios no Brasil, entre eles Lula.
Gerentes da gigante da construção Odebrecht listaram Alckmin entre os políticos que supostamente receberam doações ilegais de campanha.
Ele nunca foi acusado.
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