Milhões de brasileiros odeiam Bolsonaro, Lula ou ambos - e esse voto de rejeição terá um papel decisivo, dizem analistas
Milhões de brasileiros odeiam Bolsonaro, Lula ou ambos - e esse voto de rejeição terá um papel decisivo, dizem analistas AFP

Carisma e estratégia de campanha não serão as únicas coisas em jogo quando o presidente de extrema-direita do Brasil, Jair Bolsonaro, e o desafiante de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva se enfrentarem em um segundo turno polarizador no domingo.

Aqui estão três fatores-chave que os analistas dizem que determinarão o resultado.

Milhões de brasileiros odeiam Bolsonaro, Lula ou ambos – e esse voto de rejeição terá um papel decisivo, dizem os analistas.

Quatro anos atrás, Bolsonaro concorreu como um outsider, aproveitando a indignação generalizada com uma crise econômica e grandes escândalos de corrupção sob o Partido dos Trabalhadores (PT), que governou o Brasil por 13 anos - primeiro sob Lula (2003-2010), depois Dilma Rousseff (2011-2016), que acabou sendo cassado.

Agora, com o Brasil profundamente dividido sobre o conservadorismo linha-dura de Bolsonaro, negação do Covid-19 e estilo cáustico, o ex-capitão do exército tem muitos inimigos.

"A política brasileira tem duas forças negacionistas: 'anti-PTismo' e 'anti-bolsonarismo'. E isso vai decidir a eleição", diz Mayra Goulart, cientista política da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Cerca de 32 milhões de brasileiros não votaram no primeiro turno da eleição de 2 de outubro - mais de cinco vezes os seis milhões de votos que separaram Lula (48%) de Bolsonaro (43%).

"A participação será fundamental" no segundo turno, diz o cientista político Oliver Stuenkel, da Fundação Getulio Vargas.

Os eleitores pobres, um grupo que se inclina fortemente para Lula, são particularmente suscetíveis a ficar em casa, especialmente se não tiverem transporte.

Em teoria, o voto é obrigatório no Brasil. Mas a multa por descumprimento - 3,5 reais, ou pouco mais de 50 centavos de dólar - custa menos do que a passagem de ônibus de ida e volta.

"Quanto mais eleitores ficarem em casa, pior será para Lula", diz Stuenkel.

A maior economia da América Latina está saindo lentamente de seu buraco pandêmico.

O desemprego caiu de uma alta da pandemia de 14,5% para 8,7% no último trimestre, e o crescimento econômico deve chegar a 2,8% este ano.

Mas 9,5 milhões de trabalhadores estão desempregados, 33 milhões de pessoas estão passando fome e os preços continuam dolorosamente altos para a maioria - embora a inflação tenha começado a cair.

"A economia, a inflação alta... o desemprego exacerbado pela pandemia, tudo isso contribuiu para o desânimo de muitas famílias" com Bolsonaro, diz o sociólogo Paulo Baia.

Lula, que é lembrado por um boom econômico e programas sociais que ajudaram a tirar 30 milhões de pessoas da pobreza, está se apoiando fortemente nesse legado.

Enquanto isso, Bolsonaro conta com pagamentos de previdência social para os pobres, cortes nos preços dos combustíveis e sinais preliminares de tempos melhores à frente para conquistar os eleitores.

Em última análise, a economia pode não ser a questão decisiva.

Stuenkel diz que pode ser eclipsado pelas guerras culturais do Brasil e temas favoritos de Bolsonaro como "família, cristianismo e tradição".

"Se (Lula) vencer, isso mostrará que a principal preocupação dos eleitores é a economia", diz ele.

"Se Bolsonaro vencer, isso mostrará que o conservadorismo social é visto como a questão mais importante."