Visita de Lula à COP27 é vista como restauração da credibilidade climática do Brasil
A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva como próximo presidente do Brasil já está aumentando a credibilidade do país nas negociações climáticas deste ano da ONU, com o líder de esquerda participando da COP27 no Egito na quarta-feira.
Lula derrotou o presidente de direita Jair Bolsonaro, que presidiu a crescente destruição da floresta amazônica e se recusou a realizar a cúpula do clima de 2019 originalmente planejada para o Brasil.
Em sua primeira viagem internacional após ser eleito em 31 de outubro, Lula planeja fazer um discurso com a mensagem de que "o Brasil está de volta" como líder no enfrentamento das mudanças climáticas, disseram dois de seus assessores à Reuters.
O amplo plano de Lula promete intensificar a aplicação da lei ambiental e criar empregos verdes que não ocorram às custas da floresta tropical. A equipe de Lula também trabalhou para garantir uma aliança de conservação da selva anunciada na segunda-feira entre as três maiores nações com florestas tropicais - Brasil, Indonésia e República Democrática do Congo.
Três diplomatas brasileiros disseram à Reuters que o país está em uma posição mais forte para negociar nas negociações da ONU, realizadas este ano em Sharm el-Sheikh, no Egito, já que outros países sabem que em breve terão um governo de Lula por trás deles.
"Agora, com essa perspectiva de uma visão mais favorável da questão por parte do próximo governo brasileiro, estaríamos ainda mais capacitados para interagir com diferentes interlocutores", disse um diplomata.
Os diplomatas falaram sob condição de anonimato, pois não estavam autorizados a falar com a mídia.
As posições de negociação do Brasil permaneceram praticamente inalteradas nas últimas décadas, independentemente de quem foi presidente, e é provável que Lula faça as mesmas exigências diplomáticas de seu antecessor, disseram os diplomatas. Isso inclui pressionar as nações ricas com altas emissões de gases de efeito estufa a pagar às nações pobres pelos danos históricos ao clima.
A ministra do Meio Ambiente da Colômbia, Susana Muhamad, disse que a eleição de Lula permitiria uma cooperação regional renovada entre as nações da floresta amazônica para combater o desmatamento, um dos principais contribuintes para a mudança climática.
"Há um novo contexto político na América Latina", disse Muhamad. "Temos que trabalhar em uma política comunitária na Amazônia."
Ela disse que a Colômbia e seu próprio presidente recém-eleito, Gustavo Petro, apoiam a proposta de Lula para uma cúpula de países amazônicos e nações desenvolvidas interessadas em conservação.
A assessora ambiental de Lula, Izabella Teixeira, disse que sentiu que o clima sobre o Brasil mudou na COP27 em relação às cúpulas anteriores.
"Quando venho para a COP e encontro as pessoas depois da eleição do presidente Lula, há esperança", disse ela. "As pessoas estão muito felizes porque o Brasil vai voltar."
Teixeira disse que Lula recebeu muitos pedidos de reuniões bilaterais, mas nenhum pôde ser tornado público por questões de segurança. Está em discussão um possível encontro com a delegação norte-americana liderada pelo Enviado do Clima, John Kerry.
Lula também se reunirá com o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, e foi convidado a se encontrar com o presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, disse ela.
Na semana passada, fontes disseram à Reuters que, na COP27, Lula planeja se oferecer para sediar uma futura cúpula do clima da ONU e anunciar a criação de uma autoridade climática nacional para supervisionar todo o trabalho do governo para enfrentar o aquecimento global.
Lula também planeja trabalhar com os governos estaduais no Brasil para combater o desmatamento. Sua primeira reunião na quarta-feira será com seis governadores brasileiros da região amazônica que também estão na COP27, de acordo com sua agenda pública.
Na quinta-feira, Lula se reunirá com grupos da sociedade civil brasileira e representantes indígenas. Ele parte na sexta-feira para Portugal.
Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente de Lula e assessora de sua campanha, disse que sua vinda para a COP mostra a grande importância que ele dá ao clima.
"A grande mensagem é a presença dele aqui", disse ela a repórteres na cúpula.
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